A lição de solidariedade das mais vulneráveis
A lição de solidariedade das mais vulneráveis

Nas ruas de Fortaleza (Ceará, Brasil, 2,6 milhões de habitantes), como no resto das grandes cidades do país, há uma população praticamente permanente de “sem-teto” que vivem da economia informal e da solidariedade de outros. A pandemia aumentou as consequências de uma pobreza já generalizada e agravou a crise social dos sem-teto e a falta de trabalho estável e decente.

Com o objetivo de praticar solidariedadeempatia e apoio aos outros; e como uma forma de terapia válida para si mesmo, os gestores e educadores do Lar Santa Mônica consideraram apropriado para as beneficiárias do projeto participar de uma atividade social; neste caso, trazer diálogocarinho e um prato de sopa para esta população sem-teto.

Deve-se notar que as meninas e adolescentes que vivem no Lar Santa Mônica estão neste projeto porque a autoridade competente (tribunal, conselho tutelar) considerou que elas precisam de proteção especial e específica porque sofreram ou estão em sério risco de sofrer algum tipo de violência, abuso, abandono, exploração…

São pessoas muito vulneráveis que estão passando por um processo especial que, na maioria dos casos, é baseado em experiências e vivências extremamente negativas. É comum que sintam desconfiançaculpasolidão e que sintam dificuldade de conseguir participar de forma afetiva na realidade de outra pessoa e nos sentimentos dos outros, algo que chamamos de empatia.

A experiência, desta vez, jogou todas essas previsões teóricas aos ventos. Com sua equipe de formadores, incluindo o diretor, o agostiniano recoleto José García, assim como as Agostinianas Recoletas do Coração de Jesus, as meninas e adolescentes do Lar Santa Mônica foram à Praça do Ferreira, à Praça do BNB e ao vizinho parque das crianças, no centro da cidade de Fortaleza.

O que aconteceu foi realmente esperançoso. A psicóloga do Lar Santa Mônica, Luiza Dias, contou nas mídias sociais:

“Imediatamente apareceram pessoas que não queriam comida, mas que podiam dialogar, receber uma bênção para sua saúde, rezar juntos… É claro que também repartimos toda a sopa. Curiosamente, muitos deles pediram água: a água potável é uma das necessidades diárias mais difíceis para eles.

Contudo, o que foi incrível foi o comportamento de nossas beneficiárias. Assim que chegaram, saíram para conhecer as pessoas; algumas delas levavam sopa para aqueles que não se aproximavam da van; todos conversaram com o povo com grande simpatiaalegria; e até brincaram com as crianças.

Penso que esta experiência trouxe emoções inesperadas para nossas beneficiárias: alegria de satisfazer a fome dos outros, mas também um sentimento de gratidão por ver outras crianças em uma situação mais complexa do que a delas, que parece estar no caminho certo…

Encontrei, por exemplo, um rapaz que parecia ser já um adolescente, cerca de treze anos de idade. Perguntei-lhe quantos anos tinha e ele disse que tinha cinco… Ele claramente tinha algum tipo de deficiência intelectual não diagnosticada e não tratada.

Nossas beneficiárias nos disseram que se sentiam importantes por poder levar alegria e sorrisos a todas essas pessoas. Choraram de emoção quando contaram como as crianças destas famílias receberam os biscoitos com incrível alegria e gratidão.

Quando voltamos ao Lar Santa Mônica no final da experiência de solidariedade, houve duas conversas que tiveram um impacto sobre todos nós.

A primeira foi ver como as meninas e adolescentes do Lar Santa Mônica entendem a realidade em que vivem agora: é positiva, importante para elas. É por isso que perguntaram insistentemente porque não levar aquele menino à “Casa do Menor”, outro dos projetos dedicados a meninos e adolescentes do sexo masculino que está localizado no mesmo Condomínio Espiritual Uirapuru. Elas percebem a bondade e a necessidade dos projetos!

A pergunta também surgiu no caso de várias das meninas sem-teto que conheceram, mas com uma nota distintiva: ‘Não podemos levar as meninas para casa?’ E não, elas não disseram ‘levá-las ao Lar Santa Mônica’, mas sem pensar e diretamente usaram a palavra ‘casa’: elas queriam levá-las para casa!”.

É desta forma que as beneficiárias percebem o Lar Santa Mônica: não como um projeto, não como um espaço estranho, um lugar de terapia, uma espécie de separação de sua família ou amigos, um espaço onde adultos desconhecidos desempenham um papel educativo e social. De fato, é sua casa!

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